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domingo, 11 de março de 2018

O PRATO DA IGNORÂNCIA ESTÁ SERVIDO

ICONS REPRESENTING PROBLEM OF WEALTH DISTRIBUTION INEQALITY CAUSING SMALL NUMBER OF WEALTHY POPULATION ON ONE SIDE AND HUNGER ON THE OTHER

O desperdício de alimentos tem características causais versadas e suas consequências são visíveis, principalmente em um mundo contemporâneo dividido em classes e com contrastes desiguais. Há um enorme debate acerca do desperdício de alimentos e como se trata de um problema global, sua complexidade sugere uma reflexão abrangente da problemática citada. Tudo que envolve o homem e as relações que este tem com o mundo e os demais indivíduos que nele estão, merece espaço para um debate. 
Segundo um artigo da Gazeta do Povo publicado no ano de 2014, é preocupante o desperdício de alimentos. Cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos são desperdiçados anualmente, em contraste com esse número assombroso temos 842 milhões de pessoas passando fome, países industrializados ou em pleno desenvolvimento desperdiçam em média 222 milhões de toneladas, essa quantia sustentaria por um ano a África subsaariana.  
 O desperdício tem como causa: o comportamento errôneo do consumidor em comprar em excesso e a falta de organização e planejamento na venda e na armazenagem dos produtos, a (logística). O homem está servindo para a posteridade um prato de ignorância, um prato que não tem comida porque fora desperdiçada antes de ser servida. 
Josué de Castro, influente geógrafo, já dizia que a humanidade é dividida em dois grupos: o grupo dos que não comem e o grupo dos que não dormem com medo dos que não comem. Reinterpretando sua colocação e inserindo no contexto do desperdício é possível afirmar que quando o homem desperdiça, ele também divide a humanidade em dois grupos: o grupo dos que comem com fartura, servem o prato da ignorância e o grupo que não tendo o que comer, passa fome, eles até comem, mas é difícil de engolir a ignorância que o outro grupo serve.
Um grupo desperdiça e o outro passa fome e para, Milton Santos, outro importante geógrafo brasileiro, ela está diretamente ligada com o modelo econômico e Castro corrobora essa afirmação em seu livro geografia da fome, defendendo a ideia de que a fome é o resultado da má distribuição das riquezas e dos produtos.  
É fato que algumas pessoas não consideram que existe desperdício, entretanto estas mesmas estão inseridas em contextos socioeconômicos elevados, a inutilização dos alimentos se dá por pessoas que tem a garantia de sempre terem alimentos na mesa. Segundo Platão, o desejo se dá pela falta que se tem de algo, quando esta falta é suprida, o desejo some. Àqueles que tem o que comer e esbanjam sabendo que terão ainda o que comer no dia seguinte, estes não sentem mais desejo, pois a falta já fora provida, diferentemente daqueles que estão desejosos pelo pão de cada dia.  
O desperdício dos alimentos não pode ser algo tolerável e deve ser combatido. O desperdício, como já visto, está aliado a muitos fatores. Portanto não é só uma questão de consciência, mas também de planejamento e reformulação da estrutura política e econômica. Somente assim o prato da ignorância em forma de desperdício deixará de ser o prato principal do mundo global.



Emanuel Augusto, acadêmico do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.

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