Produzir conhecimento é algo inato do ser humano. Para isso, a escola é essencial na formação do pensamento crítico dos homens. Desde os primórdios da humanidade os modelos e métodos educacionais vêm se modificando e se adaptando às necessidades histórico-culturais das diferentes sociedades.
Entretanto, o modelo educacional tradicional-burguês, vigente na grande maioria das instituições de ensino brasileiras, não satisfaz as necessidades do aluno, descontextualizando-o de sua realidade sócio-histórica e distanciando-o de si mesmo.
O ambiente escolar fechado não condiz com os meios de comunicação atuais. Hoje temos a informação instantânea e fácil. O mundo se tornou ágil, dinâmico e globalizado. Em contrapartida a escola, lugar onde o aluno fica confinado, permanece estática.
O processo de memorização, base do modelo educacional tradicional-burguês, distancia o aluno de si mesmo ao não utilizar todas as suas capacidades. Segundo o pedagogo brasileiro Lauro de Oliveira Lima, a inteligência "é a função que só se 'ativa' diante de uma situação-problema" e que "todo processo escolar que não 'desafia' é frenagem ao desenvolvimento".
A disposição física da sala de aula também está fora do contexto atual. Há muito pouco espaço para as dinâmicas de grupo e quase ausência das tecnologias digitais. Hoje, é possível debater ou entrar em fóruns de discussão na internet, opinar e expressar diferentes visões de mundo, e até mesmo criar uma página pessoal, em que temas variados podem ser abordados por qualquer pessoa.
Outros fatores vistos na escola, típicos do sistema capitalista e conseguintemente do modelo educacional tradicional-burguês, são o esforço e a competição - em que o aluno precisa "provar" que aprendeu, através das avaliações, trabalhos, etc. - e a autoridade - em que o professor recorre à sua posição privilegiada para que os alunos façam o que foi solicitado e se "comportem bem". Para muitos, sem esses elementos a escola não funcionaria: um ambiente de diálogo e debates, com acesso às ferramentas digitais, não "renderia" e o educando "não aprenderia nada".
Cabe aqui dizer que quando falamos em educação, falamos também em seres humanos. Segundo Paulo Freire “o homem deve ser o sujeito de sua própria educação, não pode ser o objeto dela, por isso, ninguém educa ninguém”. Para o autor, o saber se faz através de uma superação constante. O livre pensamento e a livre exposição de ideias tornam o aluno o sujeito da sua própria educação, fazendo com que ele conheça e desenvolva novos pontos de vista, novas visões de mundo. Ninguém detém o conhecimento e o processo de descobrimento da realidade se faz através do diálogo. Nenhum conhecimento está pronto e a educação libertadora parte deste princípio. O verdadeiro conhecimento é aquele que desperta a consciência de que transformamos a realidade através das ações, vindas do diálogo e do livre debate de idéias.
O homem é sujeito pensante, que busca sempre se superar, criar coisas novas, desenvolver ideias originais. Pensa, e ao pensar, se faz agente da própria história. Negar isso é negar a essência humana, é torná-lo alheio a si mesmo. Alienar o homem é tirar dele a capacidade de se superar. É tirar dele a capacidade de escolher, a capacidade de pensar por si próprio. É dominá-lo ideologicamente. Além disso, o educando, como todos os seres humanos, está inserido em uma realidade sócio-histórica que não pode ser negada. Sem saber qual é o seu contexto, ele não tem rumo certo, se torna parte da massa que mantém o status quo, e que apenas reproduz os padrões da sociedade burguesa.
Embora nosso sistema econômico vigente favoreça a alienação, é necessário que os paradigmas pedagógicos sejam modificados. Um modelo educacional em que o educando conquiste autonomia para pensar e capacidade de se posicionar dentro do seu contexto é o único que tem a capacidade de formar cidadãos com senso crítico e voz ativa dentro da sociedade, e, portanto, o único que tem capacidade de modificar a realidade.
Milena Francio, acadêmica do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.
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