A globalização fez o mundo caber nas palmas das nossas mãos. Graças as gigantes façanhas dos pequeninos aparelhos tecnológicos, não há mais distância que nos impeça de fazer contato com alguém, localizar um destino... A ciência já não é mais tao enigmática. O conhecimento está a um clique, toda informação necessária (ou desnecessária) está disponível à consulta, desde que a bateria não esteja fraca, basta ler ou reler, toda vez que preciso for lembrar-se de algo. Hoje, qualquer um pode saber até mesmo como fabricar uma bomba atômica. No entanto, são todos dados que não precisam mais ser memorizados, uma vez que toda informação está sempre acessível. A mente humana não pratica mais o armazenamento de memória. As sinapses nervosas que trabalham a seu favor vão se atrofiando. Este turbilhão de informações que fez o homem preocupar-se mais com baterias recarregáveis do que com a estimulação cerebral, tornou-o mais inteligente?
Para a maioria das pessoas, a ciência não tem mais segredos. De forma bastante concisa, o Google já revelou todos os que elas tiveram curiosidade em saber. Solicitar informações sobre localização nas vias, em breve, será uma situação extinta, pois o GPS, com sua voz irritantemente impecável é um guia para qualquer destino. Não é preciso memorizar nenhuma rota. Nem mesmo os princípios passados de geração a geração sobre como se dar bem na vida, precisam ser recordados. Há inúmeros textos na internet, de autores bem sucedidos, dando a receita de como alcançar o sucesso e podem ser lidos em qualquer hora, em qualquer lugar. Quando uma informação se faz necessária, ou não se tem certeza sobre alguma lembrança, apelar à memória tornou-se um esforço em desuso, uma perda de tempo.
Nossos cérebros não praticam mais o ato da memorização. Conscientemente, ninguém mais se dá a esse trabalho, não é preciso tentar decorar as estrofes de um poema se ele continuará ali tão fácil ao acesso. Dessa forma, agimos com qualquer informação eletronicamente acessível. Assim, pela falta da prática desse ato, a memória acaba por extingui-lo e, em seu lugar, temos uma atrofia de sinapses nervosas. Antes, para tomar conhecimento de algo, nos esforçávamos em alguma forma de pesquisa, e mais tarde, outro esforço era feito, para busca-lo na memória, mas não fazemos mais isso. Por exemplo, um aluno de literatura precisa lembrar-se de alguma parte de uma obra de Guimarães Rosa para escrever um artigo. Provavelmente, não perderá muito tempo tentando lembrar se o professor falou sobre aquilo em aula ou do que falou, ou do que ele mesmo se lembra dos trechos da obra. Ele irá diretamente pesquisar seu interesse na internet. E o cérebro vai se adaptando a esse caminho de mais agilidade manual e menos estímulo de pensamento.
O funcionamento da memória humana, segundo José Lino Bueno, professor de Psicologia da Usp, baseia-se na capacidade dos neurônios de se adaptar aos contextos e depende de demandas atencionais e motivacionais. Por exemplo, como estamos cientes de que todas (ou quase todas) as informações estão a nosso alcance, o cérebro acaba por presumir que grande parte delas não precisa ser memorizada. Chega-se a um ponto em que, a memória nem sequer gera arquivos para armazenamento.
De fato, as tecnologias de informação encheram o mundo de atalhos. O campo educacional certamente sente-se presenteado com esse advento. O acesso tão fácil ao conhecimento permite as massas o que poderia chamar-se um nível uniforme de inteligência e, para muitos o que importa é a posse do saber, e não os meios de como adquiri-lo. Contudo, a defasagem na memória humana já é um fato visível. Esforços de memorização e recorrências à memória são comportamentos que a maioria das pessoas já não expressa mais, e por ser uma propriedade biológica da memória, a extinção, como comprova as descobertas do fisiólogo russo Pavlov, ela mesma os vai eliminando.
O mundo na palma das mãos, inquestionavelmente, é uma dádiva ao homem atual. Porém o que se vê não é um ser superando-se a cada dia com o auxílio dessa fantástica ferramenta, e sim um ser tornando-se assustadoramente dependente das máquinas que ele mesmo criou. E acaba por trocar o dom natural supremo que carrega na caixa craniana por aquilo que leva no bolso e torna-se ultrapassado a cada ano. Devem ser aproveitadas todas as vantagens tecnológicas, o contrário disso, seria uma estupidez, mas se foi capaz de cria-las, deve estar ciente o homem de que deve ser prudente, para não deixar o potencial que lhe é intrínseco entrar em obsolescência.
Mariana Perizzolo, acadêmica do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.
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