O acesso à Educação Superior no Brasil tem
sido facilitado por meio de incentivos públicos e privados que auxiliam o jovem
a ingressar no espaço acadêmico. Mas o
principal motivo que o leva para a universidade é o da facilidade em encontrar
um emprego que garanta benefícios e, geralmente, alto valor salarial depois de
formado. A busca pela pós-graduação em diferentes níveis também é impulsionada,
entre outros fatores, pela qualificação que o indivíduo terá além do que seus
concorrentes no mercado de trabalho. Sendo assim, quem possuir uma graduação de
qualidade deveria estar livre do desemprego. Porém, não é isso que se percebe
na realidade, na qual o desemprego assombra todas as parcelas da sociedade. Ou
seja, formação profissional nem sempre é sinônimo de garantia de emprego ou até
mesmo de um emprego formal.
Esse assunto é tratado por diversos
estudiosos da área de Trabalho e Educação, como Reginaldo Prandi. Uma das obras
do autor, Os Favoritos Degradados, traz no título uma referência ao
chamado exército de reserva intelectual, que pode ser entendido como os jovens
profissionais qualificados que aguardam por um emprego. A qualificação
profissional através da universidade, como dito anteriormente, tem como um de
seus motivos a ideia de uma boa recompensa salarial. Na mesma obra, Prandi
ilustra que essa ideia não é verídica. Ele utiliza o exemplo de um médico
(profissão vista pela sociedade como a de alguém bem sucedido financeiramente),
que precisa trabalhar em vários locais diferentes, atendendo inúmeros pacientes
por dia em atividades mecânicas, com a finalidade de manter seu padrão de vida
de acordo com suas necessidades.
Complementando a ideia de Prandi, Valéria
Mattos, estudiosa da mesma área, associa o desemprego com a ideia de
empregabilidade, em seu livro Pós-Graduação
em Tempos de Precarização do Trabalho. Segundo ela, o mercado de trabalho
culpa o indivíduo pela sua falta de capacitação, o que o leva para a constante
qualificação profissional na busca de um emprego. Com isso, a educação recebe o
sentido de mercadoria. O modelo de produção capitalista no qual estamos
inseridos é o toyotismo, que exige profissionais versáteis e com visão
generalista. Para isso, os candidatos devem estar sempre aprimorando suas
qualidades profissionais. E se não conseguirem alcançar o nível de capacitação
desejado pelo contratante, existem vários outros candidatos para ocupar a mesma
vaga, pertencentes ao exército de reserva intelectual.
Outro ponto levantado pela autora, que
demonsta a difícil situação de um diplomado em busca de emprego, é o da
degradação do mundo do trabalho. As vagas nas universidades públicas e privadas
são preenchidas completamente, mas após a conclusão de um curso, não há
trabalho disponível para a área desejada. Ela expõe que a maioria dos postos de
trabalho ofertados são da área de serviços, com contratos precários e baixa
exigência de titulação. O mercado de trabalho para quem possui titulação universitária
é restrito e altamente competitivo, não atendendo a todos.
Ao contrário da ideia de que não existem
garantias de emprego ou de um emprego formal para diplomados, há o discurso de
que a escolaridade é o que desencadeia o desenvolvimento econômico de um país,
através da boa colocação profissional da população. A busca por conhecimento
deve partir do indivíduo, que investe em si o quanto almeja de um futuro
emprego. Esse investimento no próprio indivíduo é a base da Teoria do Capital
Humano, que tem como principal expoente Theodore Schultz. Através do que foi
exposto, é perceptível que não depende apenas da pessoa em si preparar-se para
o mercado, pois existem diversas questões sociais que influenciam sua colocação
no mercado de trabalho.
Em síntese, não existe nenhuma garantia
concreta que assegure ao diplomado a chance de conquistar uma vaga de emprego
ou alguma que esteja a altura de sua diplomação. O mercado de trabalho é cruel
e competitivo, até mesmo para quem tem alto nível de escolaridade. Afinal de
contas, nem sempre o profissional mais qualificado consegue realizar sua
atividade da mesma forma que estudou para exercê-la.
Gabriela Aiolfi, aluna do curso de Licenciatura em Letras Português e Inglês na Universidade Tecnológica Federal do Paraná câmpus Pato Branco, no ano de 2015.
ótimo texto! falta apenas um ajuste na palavra "econômico", na terceira linha do penúltimo parágrafo. sucesso para vocês!
ResponderExcluirAgradeço pela observação!
ExcluirEscrevi o artigo acima após ler alguns capítulos do livro "Pós-Graduação em Tempos de Precarização do Trabalho", de Valéria Mattos, do qual extraí os argumentos apresentados. Recomendo a leitura do texto da autora, que trata muito bem do assunto pós-graduação e mercado de trabalho.
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