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domingo, 1 de outubro de 2017

COTAS RACIAIS: UM PRIVILÉGIO PARA OS NEGROS?



Muito se discute sobre as cotas raciais. Em um país como o Brasil, essa medida de ação afirmativa não seria diferente. Ela consternou diversos setores, como o socioeconômico do país, pois a classe burguesa branca não aceitara com facilidade a inserção dos negros nas mesmas salas de aula. Sendo assim, causaria fortes discussões e manifestações em torno do tema. Tendo em vista as disparidades sociais presentes no país, as cotas raciais devem sim, ser vistas como medida para início da diminuição da desigualdade racial.
Desde o forjado fim da escravidão até os dias atuais, a inserção do negro na sociedade vem sendo tratada com rejeição e preconceito. O Plano de Juventude Viva foi apresentado pela ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Nilma Lino Gomes. Esse projeto reúne ações para oportunidades de inclusão dos jovens negros de 15 a 29 anos e coleta dados que revelam um percentual no qual 67,9% dos jovens mortos no país são negros. É um índice altíssimo para o Brasil, comprovando ainda que a população é racista e violenta.
Esta dificuldade de inserção havia de refletir na educação. Um gráfico divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre as taxas de matrículas no ensino superior em 2013 mostrou que, apesar do desenvolvimento positivo, ainda há grande diferença racial no número de matriculados. Contudo, brancos ocupam ainda quase 70% das vagas no ensino superior. É por isso que o sistema de cotas vem lutando desde 2000, quando foram discutidas as primeiras ideias de implantação desse sistema no país. Ou seja, apesar do crescimento quanto ao número de matrículas para cotistas raciais, os dados apresentam-se ainda muito desemparelhados, isto é, ainda há poucos negros matriculados nas universidades. 
A Universidade de Brasília (UNB) foi a primeira universidade federal do país a adotar a política de cotas depois de analisar que a instituição admitia em sua maioria apenas o pensamento de um segmento étnico, dos brancos. E a população de Brasília também era, em sua maioria, constituída por negros. Segundo a universidade, mais de 4 mil alunos entraram na instituição por meio das cotas raciais. E enfatizam ainda que, sem essas políticas, muitas dessas pessoas não conseguiriam chegar ao ensino superior.
No entanto, em 2006, um grupo de 120 intelectuais assinou um manifesto contra a reserva de vagas pelo sistema de cotas. Nesse documento estão os nomes do poeta Ferreira Gullar e do cantor Caetano Veloso, que afirmavam que a chegada do negro à universidade não eliminaria o racismo, e poderia até causar intolerância, produzindo efeitos contrários. Todavia, mesmo os brancos ainda sendo maioria em muitas universidades, o IBGE divulgou um percentual. Em 2004, apenas 16% dos negros tinham chegado ao ensino superior, e em 2014 esse número saltou para quase 46%. Vale ressaltar que foi graças as cotas que a chegada dos negros a universidade pode ser vista como fator igualitário.
Embora todas as dificuldades dos negros de inserção social e do surgimento de políticas para correção disso, as cotas mostraram-se eficazes, possibilitando que milhares de negros chagassem ao ensino superior. Contudo, as análises sociais, como as feitas pela UNB, são de extrema importância, por demonstrarem dados específicos de uma realidade social. Mesmo a passos lentos, o Brasil está em construção para erradicar o racismo, e a adoção das cotas já revela-se um fator igualitário na garantia de oportunidades. Assegurar ao negro o direito de chegar ao ensino superior não é privilegiar uma raça, é analisar historicamente os dados e entender que as prerrogativas para a comunidade negra sempre se deram em menor escala.

Matheus Aniecevski, acadêmico do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.


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