Uma violência ainda pouco conhecida
no Brasil é a que ocorre nos partos de muitos hospitais. A chamada violência obstétrica
acontece quando os profissionais responsáveis pelo parto agem sem o
consentimento da mulher grávida, parturiente ou puérpera (que deu à luz
recentemente) e/ou desrespeitam à sua autonomia, integridade física e mental,
sentimentos, opções e preferências.
A conscientização da existência
desse tipo de ato desrespeitoso contra grávidas deveria existir. Muitas
mulheres não sabem que têm o direito de denunciar e agir, para que exista um
menor número de casos.
A violência obstétrica faz com que a
mulher, muitas vezes, se sinta humilhada, constrangida e chegue até a ter
traumas por causa do mau atendimento e das situações sofridas como, por
exemplo, o sofrimento causado quando hormônios são dados para tornar o parto
mais rápido.
Andrea Dip é uma das mulheres que
sofreu essa violência, em uma reportagem chamada “Na hora de fazer não gritou”,
ela relata as situações que sofreu e coloca dados que nos mostram quão
frequentemente a violência obstétrica ocorre.
Uma das situações passadas por
Andrea foi no momento em que estava dando a luz a seu filho. Ela conta que não
teve direito a acompanhante e que seu marido podia entrar apenas algumas vezes
e ficar pouco tempo para não constranger outras grávidas que estavam dando à
luz no mesmo quarto que ela. Além disso, junto com o médico, estavam terceiros,
que ela nem conhecia, assistindo ao parto. Andrea diz que essa foi a situação
mais constrangedora de sua vida.
Um dos dados mais assustadores da
reportagem é o de que uma em cada quatro mulheres sofreu essa violência. Ana
Cristina, que faz parte de um grupo de mulheres que luta para denunciar a
violência obstétrica através de blogs e redes sociais, diz que se perguntarmos
se as mulheres que deram a luz já passaram por pelo menos uma das situações que
se encaixam na violência obstétrica, provavelmente chegaríamos a 100% dos
partos no Brasil.
Dados do Ministério da Saúde apontam
que em 2010, o Brasil registrou mais cesarianas do que partos normais. Enquanto
em 2009 o País alcançava a sigla de 50% de partos cesáreos, em 2010, a taxa
subiu para 52%. A Organização Mundial da Saúde recomenda que essa taxa fique em
torno de 15%. Na rede privada, o índice de partos cesáreos chega a 82% e, na
rede pública, 37%. Quando a situação exige, a cirurgia cesariana traz
benefícios à gestante e ao recém-nascido. Mas, quando feita de forma
indiscriminada, como vem ocorrendo, pode implicar em riscos para a mãe ou para
o feto.
Para impedir que o parto cirúrgico
ocorra sem necessidade, a saída é o parto humanizado, com as iniciativas previstas
na estratégia Rede Cegonha. Segundo o secretário de Atenção à Saúde do
Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, o excesso de partos cirúrgicos se deve
principalmente ao desconhecimento que as mulheres ainda têm em relação aos
benefícios do parto normal.
Casos de mulheres que foram
submetidas a procedimentos dolorosos e desnecessários não são raros.
Infelizmente, muitas mulheres acreditam que tais procedimentos simplesmente
fazem parte do parto e não sabem identificar quando sofrem violência no parto.
Segundo Ana Cristina Duart, obstetriz e ativista pelo parto humanizado, “impedir que a mulher seja acompanhada por
alguém de sua preferência, tratar uma mulher em trabalho de parto de forma
agressiva, não empática, grosseira, zombeteira, ou de qualquer forma que a faça
se sentir mal pelo tratamento recebido, tratar a mulher de forma inferior,
dando-lhe comandos e nomes infantilizados e diminutivos, submeter a mulher a
procedimentos dolorosos desnecessários ou humilhantes, como lavagem intestinal,
raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com portas abertas, submeter a
mulher a mais de um exame de toque, especialmente por mais de um profissional,
dar hormônios para tornar o parto mais rápido, fazer episiotomia sem
consentimento” são apenas os casos mais frequentes.
Como
sociedade, devemos nos alertar sobre o que ocorre em vários hospitais e não
deixar que mulheres sofram na hora de ter seus filhos. Dar a luz não deve ser
sofrível, deve sim ser algo prazeroso e um momento de muita alegria. Grávidas
podem e devem denunciar sempre que se sentirem no direito.
Iara Zardo e Evelin Vilharvos, acadêmicas do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.
texto muito bom, eu por exemplo nem sabia da existência desse tipo de violência.
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