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quarta-feira, 22 de maio de 2013

DOR DA LUZ: A REALIDADE DOS PARTOS NO BRASIL






Uma violência ainda pouco conhecida no Brasil é a que ocorre nos partos de muitos hospitais. A chamada violência obstétrica acontece quando os profissionais responsáveis pelo parto agem sem o consentimento da mulher grávida, parturiente ou puérpera (que deu à luz recentemente) e/ou desrespeitam à sua autonomia, integridade física e mental, sentimentos, opções e preferências.

A conscientização da existência desse tipo de ato desrespeitoso contra grávidas deveria existir. Muitas mulheres não sabem que têm o direito de denunciar e agir, para que exista um menor número de casos.

A violência obstétrica faz com que a mulher, muitas vezes, se sinta humilhada, constrangida e chegue até a ter traumas por causa do mau atendimento e das situações sofridas como, por exemplo, o sofrimento causado quando hormônios são dados para tornar o parto mais rápido.

Andrea Dip é uma das mulheres que sofreu essa violência, em uma reportagem chamada “Na hora de fazer não gritou”, ela relata as situações que sofreu e coloca dados que nos mostram quão frequentemente a violência obstétrica ocorre.

Uma das situações passadas por Andrea foi no momento em que estava dando a luz a seu filho. Ela conta que não teve direito a acompanhante e que seu marido podia entrar apenas algumas vezes e ficar pouco tempo para não constranger outras grávidas que estavam dando à luz no mesmo quarto que ela. Além disso, junto com o médico, estavam terceiros, que ela nem conhecia, assistindo ao parto. Andrea diz que essa foi a situação mais constrangedora de sua vida.

Um dos dados mais assustadores da reportagem é o de que uma em cada quatro mulheres sofreu essa violência. Ana Cristina, que faz parte de um grupo de mulheres que luta para denunciar a violência obstétrica através de blogs e redes sociais, diz que se perguntarmos se as mulheres que deram a luz já passaram por pelo menos uma das situações que se encaixam na violência obstétrica, provavelmente chegaríamos a 100% dos partos no Brasil.

Dados do Ministério da Saúde apontam que em 2010, o Brasil registrou mais cesarianas do que partos normais. Enquanto em 2009 o País alcançava a sigla de 50% de partos cesáreos, em 2010, a taxa subiu para 52%. A Organização Mundial da Saúde recomenda que essa taxa fique em torno de 15%. Na rede privada, o índice de partos cesáreos chega a 82% e, na rede pública, 37%. Quando a situação exige, a cirurgia cesariana traz benefícios à gestante e ao recém-nascido. Mas, quando feita de forma indiscriminada, como vem ocorrendo, pode implicar em riscos para a mãe ou para o feto.
            
Para impedir que o parto cirúrgico ocorra sem necessidade, a saída é o parto humanizado, com as iniciativas previstas na estratégia Rede Cegonha. Segundo o secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde, Helvécio Magalhães, o excesso de partos cirúrgicos se deve principalmente ao desconhecimento que as mulheres ainda têm em relação aos benefícios do parto normal.
            
Casos de mulheres que foram submetidas a procedimentos dolorosos e desnecessários não são raros. Infelizmente, muitas mulheres acreditam que tais procedimentos simplesmente fazem parte do parto e não sabem identificar quando sofrem violência no parto.

Segundo Ana Cristina Duart, obstetriz e ativista pelo parto humanizado, “impedir que a mulher seja acompanhada por alguém de sua preferência, tratar uma mulher em trabalho de parto de forma agressiva, não empática, grosseira, zombeteira, ou de qualquer forma que a faça se sentir mal pelo tratamento recebido, tratar a mulher de forma inferior, dando-lhe comandos e nomes infantilizados e diminutivos, submeter a mulher a procedimentos dolorosos desnecessários ou humilhantes, como lavagem intestinal, raspagem de pelos pubianos, posição ginecológica com portas abertas, submeter a mulher a mais de um exame de toque, especialmente por mais de um profissional, dar hormônios para tornar o parto mais rápido, fazer episiotomia sem consentimento” são apenas os casos mais frequentes.
            
Como sociedade, devemos nos alertar sobre o que ocorre em vários hospitais e não deixar que mulheres sofram na hora de ter seus filhos. Dar a luz não deve ser sofrível, deve sim ser algo prazeroso e um momento de muita alegria. Grávidas podem e devem denunciar sempre que se sentirem no direito.

Iara Zardo e Evelin Vilharvos, acadêmicas do curso de Letras da UTFPR campus Pato Branco.

Um comentário:

  1. texto muito bom, eu por exemplo nem sabia da existência desse tipo de violência.

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